quarta-feira, 14 de março de 2012

Equilibrista


O bêbado e a equilibrista (trecho)
João Bosco

A esperança dança
Na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar

Azar,
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar


Engraçado como as músicas são. Saber letras de cor e nunca entender completamente seu significado. E aí, num táxi, às 20h, ao lembrar esta canção que eu adoro, ficar com as palavras martelando na cabeça. E exatamente essas duas estrofes ficaram ecoando, durante os quase 20 minutos da viagem.

Porque só se lembra da esperança quando se precisa dela. É um objeto largado no canto da sala, enquanto os convidados da festa comem, bebem e riem. Depois de terminada a festa, com tudo no escuro, com a bagunça feita, sem encontrar mais nada, quando risos já silenciaram, ela brilha. Foi assim que eu me senti.

Presa no silêncio da noite, pensando que tudo terminou de novo, e me deixou só, cansada, escura, bagunçada. E lembrei as palavras do João, na voz da Elis. A esperança, vestida de bailarina, sobre uma fina corda, podendo despencar e morrer a qualquer momento da caminhada. E, mesmo assim, continua a desafiar a queda.

Assim, pensei em quantas vezes a esperança já quase morreu em mim. Términos de relacionamentos, fracassos, despedidas. E ela permanece no fio, dançando e levando consigo a parte mais bonita do show. O renascer em cada passo, o sorrir depois da tempestade, o não-desistir da vida.

E assim, artista que sou, continuo a apresentação, pronta para novos espetáculos, gargalhadas e lágrimas. Recordo a metáfora shakespeareana sobre a vida em MacBeth, Ato V, cena V : “Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa.”  A vida pode ser uma chama breve e efêmera, mas ainda assim, levanto, bato palmas e peço: Abram as cortinas, eis-me aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Licença Creative Commons
Este obra de Rita Cammarota, foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.