terça-feira, 5 de julho de 2011

O R U? (Quem é você?)

Esquadros

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?

Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?

                                   --Renato Russo e Adriana Calcanhoto—(acho)

Esta é a música que nomeia o blog. Escolhi-a porque acho que me define muito bem, minha curiosidade, minha vontade de ver novas cores, novas culturas, países, pessoas. Amo viajar e não me sinto pertencente a nenhum país. Sou brasileira, aqui moro, mas ao visitar qualquer lugar, sempre questiono “e se eu fosse francesa, belga, americana? E se eu fosse indiana ou japonesa?”

Penso como a minha visão de mundo mudaria se eu tivesse nascido em cada um desses lugares, se as cores que eu veria seriam as mesmas. Meus valores. O planeta é tão grande, tão cheio de tudo e impossível de abraçar, de sentir todos os cheiros, de viver todas as experiências. Posso viver de cada lugar só um pouquinho, provar um pouquinho.

E as línguas? Se eu pudesse, falaria todas com a mesma fluência. Umas tonais, outras não. Cada uma soa diferente, mas cada qual tem sua música própria. Tão belas todas.

Vivi dois meses em Brighton, Inglaterra. Lá havia estudantes do mundo inteiro. Conheci tanta gente, com vidas, culturas e caminhos tão diversos. Tão rico e interessante. Queria passar cada dia da minha vida em uma cidade diferente, só para saber como é. E mesmo assim, jamais poderia ser uma nativa ou pensar como tal. Seria uma gringa. Que pena.

A esta vontade de pertencer a todos os lugares, somo a minha outra metade, que quer criar raízes e ficar quietinha. Sou um paradoxo, por isso escolhi a poesia “Traduzir-se”, do Ferreira Gullar como a primeira do blog. Também me define horrores.

Hoje, em vez de ver o paradoxo como difícil de aceitar, vejo como parte de mim e adoro. Adoro a complexidade de ser quem eu sou. Minhas manias, minha língua, meu lar, meus desejos. Meu rosto.
Fico pensando loucamente em quem eram meus ancestrais, lá na Itália e no Brasil. E antes de a Itália ser Itália e do Brasil ser Brasil, quem eram eles. Sou eu o resultado do cruzamento de todos eles. Sou uma parte tão pequenina do mundo, fisicamente e temporalmente.

Só o que posso fazer é continuar vivendo, onde quer que eu esteja, da melhor forma possível. Ser feliz, só por hoje, que assim o serei pela vida inteira (e pela continuação dela, aqui na Terra, com meus descendentes, e além dela).
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Este obra de Rita Cammarota, foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.