quinta-feira, 29 de março de 2012

Minha menina

Vou postar hoje a versão que eu fiz para o inglês da música “Espatódea”, do Nando Reis. Ele é um dos meus compositores preferidos dos últimos tempos. Adoro as tiradas dele, suas canções, especialmente “All Star” e “Relicário”.

Acho a música de hoje especial, porque foi feita para a filha mais nova dele, Zoé. Isso me faz pensar na minha própria menininha, quando eu a tiver. Sei que não é sonho de todas as mulheres ser mãe, mas sempre foi um desejo que cultivei em mim.

Gerar uma vida, que se forma sem você precisar fazer nada. Quer dizer, nada além de um ato que, por si, já é prazeroso. Fico, então, pensando em seus olhos, cabelo, sorriso. No seu jeito, se vai ser calada como eu ou expansiva.

Sei que este meu desejo pode demorar para acontecer; estou solteira e mesmo se estivesse namorando, a maturidade do relacionamento conta tudo para se chegar ao ponto de se querer um filho. A única certeza que tenho é que a hora em que ela chegar, será o momento certo. Não posso ter as certezas de que falei acima, sobre seu jeito, feições, nome. Mas a mais importante já está em mim: minha menina será muito amada.

Espatódea
Composição: Nando Reis
Versão para o inglês: Rita Cammarota

You´re my color,
You´re my flower
My face

Highest star
Letters that can
Spell my way

Not sure if this world is so good
But it´s been great
Ever since the day you came
And asked:
May I be a part of it?

Little rose
Kissed by dew
On your nose

Light of day
Paradise
When you smile

Not sure if this world is so good
But it has been great
Ever since the day you came
And explained
Its meaning to me

I don´t know how sane is this place
But it wasn´t since the day I came
No reason, no maths and no love
If it wasn´t for you

terça-feira, 27 de março de 2012

Bom-dia!

A tradução que fiz e posto hoje é de outro poema de Maya Angelou, escrito para a posse de Bill Clinton em 1993. Daqui a pouco, vocês nem vão agüentar falar dela. Acho-o muito bonito, porque simples, mas ainda assim tocante. Como o poema é enorme, não vou escrever um texto paralelo. Enjoy!

Poema Inaugural
Maya Angelou
(Tradução de Rita Cammarota)

A Rocha, o Rio, a Árvore,
Anfitriões de espécies há muito extintas,
Marcaram o mastodonte.

O dinossauro, que deixou provas secas
De sua estada aqui,
No chão de nosso planeta.
Qualquer alarme claro de sua condenação apressada
Está perdido nas trevas da poeira e das eras.

Mas hoje, a Rocha clama a nós, com clareza e vigor
-Venham, coloquem-se sobre
Minhas costas e contemplem seu distante destino
E não procurem abrigo em minha sombra.
Não lhes darei mais esconderijo aqui
Vocês, criados um pouco abaixo
Dos anjos, arrastaram-se longo tempo
Na escuridão sombria,
Permaneceram por longo tempo
Com a face na ignorância

Suas bocas derramaram palavras
Feitas para o massacre

A Rocha clama hoje, - podem colocar-se em mim,
Mas não escondam o rosto

 
Através da muralha do mundo,
o Rio entoa uma bela canção,
-Venham descansar à minha margem.

Cada pessoa é um país com fronteiras,
Delicado e orgulhoso,
Ainda assim, perpetuamente sitiado.

Suas batalhas armadas pelo lucro
Deixaram uma faixa de dejetos em
Minha margem, correntes de entulho em meu seio.

Ainda assim, os chamo à minha orla,
Se não estudarem mais guerras. Venham,

Vistam-se de paz e entoarei as canções
Que o Criador me ensinou quando eu
E a Árvore e a Rocha éramos um só

Antes de ser o cinismo uma queimadura
De sangue em sua fronte e quando vocês sabiam
Que nada sabiam.

O Rio canta e canta ainda.
Há um real anseio a responder
Ao Rio cantor e à sábia Rocha.

Então digam ao asiático, ao hispânico, ao judeu,
Ao africano e ao indígena, ao Sioux,
Ao católico, ao muçulmano, ao francês, ao grego,
Ao irlandês, ao rabino, ao padre, ao sheik,
Ao gay, ao hétero, ao pregador
Ao privilegiado, ao sem-teto, ao professor.
Eles escutarão. Todos ouvirão
A mensagem da Árvore.

Hoje, a primeira e a última das Árvores
Fala à humanidade: Venha a mim, na margem do Rio
Plante-se ao meu lado, aqui na margem do Rio
Cada um de vocês, descendente de algum
Caminhante, foi resgatado

Você, que me batizou, você
Pawnee, Apache e Sêneca, você
Nação Cherokee, que descansou comigo, e
Forçados sobre pés ensanguentados, me deixaram
Aos cuidados de outros exploradores,
Desesperados por ganhos,
Famintos por ouro.

Você, o turco, o sueco, o alemão, o escocês...
Você, o ashanti, o yorubá, o kru compraram

Venderam, roubaram, chegaram no pesadelo,
Orando por um sonho
Aqui, criem raízes ao meu lado.
Sou a Árvore, plantada ao lado do Rio,
Que não se moverá.

Eu, a Rocha; eu, o Rio; eu, a Árvore
Sou seu – as Passagens estão pagas

Levantem o rosto, vocês têm a urgente necessidade
Desta manhã radiante, alvorecendo por você

A história, apesar da dor intensa,
Não pode ser apagada, e se encarada
Com coragem, não precisa ser revivida.

Levante os olhos
Ao dia raiando por você

Dê à luz de novo
O sonho

Mulheres, crianças, homens,
Tomem-no nas palmas das mãos

Moldem-no na forma de sua mais
Particular necessidade. Esculpam-no
À imagem de seu ser mais público.
Levantem os corações,
Cada hora nova carrega novas chances
De novos começos.

Não permaneça casado
Para sempre com o medo, sob o jugo
Eterno da brutalidade.

O horizonte se inclina para frente,
Oferece espaço a novos passos de mudança.

Aqui, no pulsar deste belo dia
Você pode ter a coragem
De olhar para cima e para mim, a
Rocha, o Rio, a Árvore, seu país

Tanto a Midas, quanto ao mendigo.

Tanto a você agora, quanto ao mastodonte outrora.

Aqui, no pulsar deste novo dia
Você pode desfrutar a graça de olhar para cima
E nos olhos de sua irmã,
No rosto de seu irmão, seu país
E dizer simplesmente
Tão simplesmente
Com esperança
Bom-dia

segunda-feira, 26 de março de 2012

Amores platônicos

Abaixo posto duas poesias que fiz em 2007. Nessa época, eu ainda via romance em amores platônicos, resquícios da minha adolescência. Idealizava os homens por quem sentia atração, mesmo que não os conhecesse bem. Está certo que em 2007, o idealismo adolescente já estava em grande parte dissolvido.

Acho que é tudo culpa do Romantismo. É muito bacana, muito legal esta de colocar o objeto amado num pedestal, não ver suas falhas e atropelar até mesmo desejos e convicções próprias para se estar com ele. O amor romântico ainda é muito disseminado atualmente, em filmes, novelas e até nas revistas femininas. Hoje em dia vejo que este amor é uma balela.

Não tenho mais um pingo de paciência para gostar de quem não gosta de mim, como diria o cancioneiro brega nacional. Estou mais para Rita Lee: “Enquanto estou viva, cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz” e “Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim”. Acho que o primeiro amor que se deve sentir é o auto-amor, um respeito por si próprio, pelos seus princípios. Depois sim, respeitar o próximo, não de forma idealizada, mas saber que ele tem características próprias, personalidade singular. Prefiro dizer “características particulares” que defeitos. Parece que o segundo termo se refere a um produto.

Gosto mesmo é de um amor real, em que gestos contam mais que palavras, em que conhecimento de tudo o que a pessoa é supera idolatrar o outro, passando por cima de qualidades e defeitos para encaixar o companheiro na sua definição de alma gêmea. Amor honesto, humano, falho, verdadeiro.

Ninguém nasceu para ser alma gêmea de ninguém. Depois que descobri isso, a vida se tornou muito mais leve. Sou um inteiro, que pode ser complementado por outro inteiro. Chega de ansiedade, de procura desenfreada, idealizações tolas. Agora, não procuro mais ninguém. Se alguém se interessar por mim e eu pela pessoa, ótimo, dou uma chance. Não deu certo: pode dar com outra pessoa, sem ter sido culpa de ninguém. Sem melodrama, sem nada. Com dor, sim, tristeza e choro, mas sem me matar.

“O amor é primo da morte”, já dizia Drummond. Só que é fruto da vida. Nasce da necessidade de viver melhor com alguém ao seu lado apoiando, de querer ser melhor, de gerar, quem sabe, outra vida. Abaixo ao amor romântico e falso de comédias românticas juvenis! Viva o amor construído passo a passo, que vence mágoas, erros, que se firma no tempo, que aprofunda amizades, que mantém o tesão.

Junto aos meus poemas platônicos, posto também um samba gostoso do Chico Buarque, que fala de um amor nada ideal, tanto que a música se chama “Amor Barato”.

Tigre
Rita Cammarota

Por que tão lindo assim?
Chega a ser covarde
Não se envergonha dos seus olhos
De tigre voltados para mim?

Mais que um tigre me devora
Não resisto aos dentes brancos
Que pelo chão vêm me arrastando

Penso nas unhas fincadas nas costas
Da tigresa que você prefere
Não sabe que isso me fere?
De inveja me mata e gosta...

Fadada estou, longe das árvores
Que seus olhos habitam
Resigno-me a admirar-te
De longe através das grades

Pensamento em você
Rita Cammarota

O pensamento de você me invade
Entra sem convite, arranca a porta
Da mente, do coração, me corta
Lança-me no chão e me ataca, covarde

Tento me libertar, impotente,
E o sentimento me agarra pelas pernas
Sem pedir desculpas ternas
Revira-me como se eu fosse indigente

Já não posso lutar
A guerra está perdida
Hoje me sinto vencida

Náufraga, não sei mais nadar
As ondas me cobrem, e despida
Perco-me em seu olhar





Amor Barato
Chico Buarque

Eu queria ser um tipo de compositor
capaz de cantar nosso amor modesto
um tipo de amor que é de mendigar cafuné
que é pobre e às vezes nem é honesto

Pechincha de amor, mas que eu faço tanta questão
que se tiver precisão, eu furto
Vem cá meu amor, agüenta o teu cantador
me esquenta porque o cobertor é curto

Mas levo esse amor com o zelo de quem leva o andor
eu velo pelo meu amor que sonha
que, enfim, nosso amor, também pode ter seu valor
também é um tipo de flor
que nem outro tipo de flor
dum tipo que tem que não deve nada a ninguém
que dá mais que Maria-Sem-Vergonha

Eu queria ser um tipo de compositor
capaz de cantar nosso amor barato
Um tipo de amor que é esfarrapar e cerzir
que é de comer e cuspir no prato

Mas levo esse amor com o zelo de quem leva o andor
eu velo pelo meu amor que sonha
que, enfim, nosso amor, também pode ter seu valor
também é um tipo de flor
que nem outro tipo de flor
dum tipo que tem que não deve nada a ninguém
Que dá mais que Maria-Sem-Vergonha

sexta-feira, 23 de março de 2012

Versão de Remains of the day do filme A noiva cadáver

Quem me conhece, sabe que sou louca por filmes de animação. Desde os da Disney, meus preferidos quando eu era menina, até os de Tim Burton. Desde “A Bela e a Fera” até “Coraline e o mundo secreto”. Não sei qual é a minha animação preferida. São tantas, tantas pelas quais sou apaixonada.

Em geral, gosto muito dos filmes do Tim Burton, porque ele sempre retrata o ponto de vista de um personagem marginalizado ou estranho, por exemplo, Edward Mãos de Tesoura, e expõe as pessoas ditas como normais com suas atitudes preconceituosas e segregadoras. Adorei tanto O Estranho Mundo de Jack, quanto A noiva cadáver. Devo dizer, contudo, que o segundo filme me ganhou.

A sensibilidade e doçura de Emily, a tal noiva, contrasta com a seriedade e insensibilidade dos pais de Victor, interpretado por Johnny Depp. Agora, a sacada brilhante deste filme é o contraste entre o mundo dos vivos, cinzento, sombrio e silencioso, e o mundo dos mortos, colorido, alegre e cheio de jazz. A trilha sonora de Danny Elfman é simplesmente brilhante. O bom humor, a pegada das músicas, as letras.

Por isso, depois de ter visto esse filme pela qüinquagésima vez, decidi traduzir algumas das canções que eu mais gosto no filme. Hoje apresento a minha versão para Remains of the day, um jazz animadinho sobre a história de Emily. A quem não assistiu, recomendo que veja e repare na trilha sonora. Um filme muito legal e emocionante. Choro sempre na cena final.

Colocarei a letra original em inglês e minha versão, que procura respeitar o esquema rímico e rítmico da música.


Remains of the Day
(Danny Elfman)

Hey! Give me a listen you corpses of cheer
Leastles of you who still got an ear
I'll tell you a story make a skeleton cry
Of our own jubiliciously lovely corpse bride

Die, die we all pass away
But don't wear a frown cuz it's really okay
And you might try 'n' hide
And you might try 'n' pray
But we all end up the remains of the day
Yeah yeah yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah

Well our girl is a beauty known for miles around
When a mysterious stranger came into town
He's plenty good lookin', but down on his cash
And our poor little baby, she fell hard and fast
When her daddy said no, she just couldn't cope
So our lovers came up with a plan to elope

Die, die we all pass away
But don't wear a frown cuz it's really okay
And you might try 'n' hide
And you might try 'n' pray
But we all end up the remains of the day
Yeah yeah yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah
(instrumental)

So they conjured up a plan to meet late at night
They told not a soul, kept the whole thing tight
Now her mother's wedding dress fit like a glove
You don't need much when you're really in love
Except for a few things, or so I'm told
Like the family jewels and a satchel of gold
Then next to the grave yard by the old oak tree
On a dark foggy night at a quarter to three
She was ready to go, but where was he

And then?

She waited

And then?

There in the shadows, was it the man?

And then?

Het little heart beat so loud

And then?

And then baby, everything went black


Now when she opened her eyes she was dead as dust
Her jewels were missin' and her heart was bust
So she made a vow lyin' under that tree
That she'd wait for her true love to come set her free
Always waiting for someone to ask for her hand
When out of the blue comes this groovy young man
Who vows forever to be by her side
And that's the story of our own corpse bride



Todos vamos pro além
(Autora: Rita Cammarota)

Prestem atenção, defuntos amigos
Pelo menos aqueles que ainda tem um ouvido
Esta é a história que faz caveira chorar
É a história da noiva que aprendemos a amar

REFRÃO:

Vem, vem, todos vamos para o além
Mas não tenha medo, pois está tudo bem
Pode até se esconder
Ou tentar rezar
O paletó de madeira vai abotoar
Yeah yeah yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah

Nossa garota é uma famosa beldade
Quando um estranho chegou à cidade
Era bonito, mas não tinha um tostão
A menina logo entregou o coração
O pai disse “não” e ela não consentiu
Pegou suas coisas, mala e cuia e fugiu
Refrão
 
Marcaram de se encontrar alta madrugada
Não contaram a ninguém, nem um pio nem nada
O vestido de noiva ficou bem assentado
Quem precisa de muito, quando apaixonado
Só de algumas coisas, assim diz a memória
Pegue um saco de ouro, leve todas as jóias
Marcaram no carvalho perto do cemitério
Numa noite escura às quinze pras três
Ela estava lá mas e ele? Mistério.

E então?
Ela esperou
E então?
Nas sombras, sera que é ele?
E então?
O coração acelerado
E então?
E então, baby, tudo ficou pretoQuando abriu os olhos, tinha empacotado
As jóias sumiram e o coração destroçado
Então ela prometeu debaixo da árvore
Esperar ser liberta por um amor de verdade
Sempre esperando alguém pedir sua mão
Quando surge, do nada, este belo varão
Que jura estar sempre ao seu lado, enfim
E a história da noiva termina assim

quinta-feira, 22 de março de 2012

"O Caderno", de Toquinho: Minha versão em inglês

Há algum tempo, tenho me dedicado a fazer versões em português de músicas em inglês e vice-versa. A primeira que comecei a fazer foi a desta música, “O Caderno”, prova de que singeleza também é beleza. Acho a letra bonita e até me lembra “Aquarela”, por mostrar a passagem do tempo por meio de símbolos infantis.

Hoje mesmo alterei alguns versos da minha versão. A minha proposta não era meramente traduzir a música e seu significado, mas fazê-la encaixar na melodia, assim como fiz com “I wish you love”. Tenho tentado fazer o mesmo com “Aquarela”, mas é um trabalho árduo. E olha que “Aquarela” tem lindas versões em italiano e espanhol.

Bem, espero que gostem. Acho a versão original simplesmente linda e peço compaixão na análise da minha versão.

Notebook
(Toquinho e Mutinho. Versão em inglês: Rita Cammarota)

I´m going to be with you
From your first scratch
Until your abc
In your every masterpiece
There with you I will be
A house, a bird
A smiling sun in the sky
And I´ll stay as you say by your side

When you have to go to school
If you use my pages, you can learn from me
All the boring Maths won´t
Last forever you will see
I´ll hear about boys, about
Hearts carved in trees
If you cry, I will wipe all your tears

You will find my pages free
If you need a friend, you can count on me
Write your words so you can end all that misery
Life won´t always be pink and blue, white and green
You´ve grown up now it´s so hard to dream

Whatever you have said to me
I will keep its secrecy and mistery
We´re not so young, and life goes on
Like it´s supposed to be

All I ask as an old friend
Is this
Please don´t tear me
From your memories

Natal cabra-da-peste

Sei que o Carnaval foi mês passado e estamos a um passo da Páscoa, mas resolvi postar hoje uma das minhas apresentações de Natal. “Como assim, apresentação de Natal?”, vocês podem perguntar. Acontece que minha madrinha adora inventar moda e me pediu, em 2007, para que eu escrevesse um auto de Natal para que eu e meus primos encenássemos.

Foi uma farra, porque minha família paterna é grande: meu pai tem dois irmãos e três irmãs. Assim, desde 2007, eu escrevo algo diferente para apresentarmos no dia 24 de dezembro. Já teve de peça infantil até montagem adaptada do clássico Conto de Natal, de Charles Dickens.

Em 2010, já não sabia mais o que tirar da cartola, então minha madrinha me disse para fazer um tipo de cordel de Natal. Achei muito legal a idéia, porque adoro a sonoridade desse tipo de poema. Então, pesquisei a história de alguns símbolos do Natal (Papai Noel, árvore, presentes) e escrevi o tal cordel.

Espero que vocês também curtam.

Cordel de Natal
Rita Cammarota
Hoje é dia 25
Dezembro, pleno verão
Reunimos a família
Sempre nessa ocasião
Pra celebrar a chegada
Do bom menino cristão

Pobre, numa manjedoura
Ele nasceu em Belém
Sua missão neste mundo
Foi disseminar o bem
“Amai ao próximo”, ele disse
“Ajudai ao que não tem”

Passaram-se muitos anos
Outro homem deu sinal
Barba branca, roupa verde
É símbolo do Natal
Mora na fria Lapônia
E se chama Nicolau

Não conhece o seu nome?
Já explico no cordel
Agora veste vermelho
Uns olhos da cor do céu
Descobriram de quem falo?
É o bom Papai Noel

Ali no canto da sala
Alegre, iluminada
De luzes, cores e bolas
E ricamente enfeitada
A árvore de Natal,
Brilha, brilha nesta data

Verde igualzinho dinheiro
Quer dizer fertilidade
Amor e renovação
E também prosperidade
Ao frio Natal alemão
Trazia felicidade

Todo ano a mesma coisa
Crianças impacientes
Ficam perto da árvore
Bem quietas e sorridentes
Para elas o Natal
É a entrega de presentes

E coitada da mamãe
Nas lojas o corre-corre
Procura aquela boneca
Que a menina muito adore
Um carrinho pro menino
Antes que o garoto chore!

E, que pena, esquecemos
O sentido do Natal
A ajuda e o amor
Tratar bem o nosso igual
E lembrar do bom menino:
“Não pagar o mal com mal”

Com a família reunida
E a ceia sobre a mesa
Com sorrisos e presentes
Brilhando como estrelas
Vamos dar as nossas mãos
Vai ficar uma beleza

Lembrar como é importante
O que diz o salvador
Ser fraterno e amigo
Tratar todos com amor
Que assim talvez o mundo
Possa vencer a sua dor

Espero que esta mensagem
Seja do agrado geral
Que rimas, versos, palavras
Tragam gosto, feito sal
Desejo que todos tenham
Um farto e Feliz Natal

quarta-feira, 21 de março de 2012

Eu e o mar

Fiz esta poesia em novembro de 2007. Lembro que me inspirei nela vendo o mar de São Conrado na subida da Avenida Niemeyer, quando as ondas que batiam na pedra e voltavam  se encontravam com as que vinham do oceano. Era lindo ver quando as ondas se chocavam e subiam em meio a outras, mais baixas. Parecia uma dança. Ao mesmo tempo eu imaginava o quão gelada devia estar aquela água.
Ver o mar me traz uma sensação engraçada. Um misto de melancolia e fascínio. Aquele movimento repetitivo e o barulho confortante das ondas. Ao mesmo tempo a periculosidade do mar, a correnteza, a profundidade. O horizonte e o “beijo azul” de que falava Toquinho em “Aquarela”, do encontro do mar com a cor do céu. Parece que eu faço parte deste infinito.

Quando cheguei ao trabalho aquele dia, foi só ligar o computador e escrever esta poesia. Sinto-me puxada para o mar sempre que o contemplo. Sinto vontade de somente calar e pensar na vida. No rumo e no sentido que dou à existência, como se eu fosse ser sugada e desaparecer. Por isso a poesia, pela adoração e temor do oceano. Colocarei após o meu poema outro de Cecília Meireles, que fala de sonhos perdidos e acabados e sua relação com o mar. Não à toa, nasci no mesmo dia que ela. Ambas escorpianas e misteriosas, melancólicas, profundas. Como o mar.



Mar alto
Rita Cammarota

As ondas envolvem num balé
Desordenado e estrondoso
Arrastam meus sonhos e corpo
E enterram na alta maré

O sorriso branco de espuma
Devora meus pensamentos
Afoga amores e tormentos
Deixa-me despida na bruma

Então, o mar, fera indomada,
Rasga-me fora de suas veias
Percebe que sou nada
E me lança nua na areia

Canção
Cecília Meireles
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Mulheres fenomenais

Este é o segundo post com a minha tradução de um poema de Maya Angelou, também dos mais famosos, chamado “Phenomenal Woman”. Acho interessante postá-la, pois, num mundo em que a beleza é inversamente proporcional ao tamanho do manequim e os ideais de estética, quando não preenchidos naturalmente, alcançados numa mesa cirúrgica ou num salão, é uma poesia que fala dos atributos da mulher pelas coisas que todas temos: o estilo, a graça, o cuidado.

A escritora já começa o poema dizendo que não se considera bela (“I´m not cute”), nem magra (“or built to suit a fashion model´s size”). Como se ela fosse a anti-musa poética. E não ser musa não é problema: se ninguém fez arte baseada nela, ela mesma fez. Por isso eu digo, as mulheres fenomenais não estão em capas de revista feminina, essas são o padrão que todas querem ser e poucas conseguem. Mulher fenomenal é a Maya, que cativa os outros do jeito que ela é, com qualidades e defeitos que todos temos, sem photoshop. Para mim, fenomenal é a mulher que constrói o seu caminho, com força, caráter e determinação, sem vergonha. Sem vergonha de ser quem ela é, de julgamentos tolos, que tem liberdade de expressão.

Que bom que estou cercada por muitas delas, na verdade, a maioria das mulheres que conheço são fenomenais. Minha avó, minha mãe, minhas tias, minhas primas, minhas colegas de trabalho e faculdade. Orgulho de ter vocês na minha vida.  Não desmereço, no entanto, os homens fenomenais que amo e estão comigo. Só que hoje, o post é para elas. Enjoy it, girls!

Mulher Fenomenal
Maya Angelou
Tradução: Rita Cammarota

Lindas mulheres indagam onde está o meu segredo
Não sou bela nem meu corpo é de modelo
Mas quando começo a lhes contar
Tomam por falso o que revelo

Eu digo,
Está no alcance dos braços,
Na largura dos quadris
No ritmo dos passos
Na curva dos lábios
Eu sou mulher
De um jeito fenomenal
Mulher fenomenal:
Assim sou eu

Quando um recinto adentro ,
Tranqüila e segura
E um homem encontro,
Eles podem se levantar
Ou perder a compostura
E pairam ao meu redor,
Como abelhas de candura

 
Eu digo,
É o fogo nos meus olhos
Os dentes brilhantes,
O gingado da cintura
Os passos vibrantes
Eu sou mulher
De um jeito fenomenal
Mulher fenomenal:
Assim sou eu

Mesmo os homens se perguntam
O que vêem em mim,
Levam tão a sério,
Mas não sabem desvendar
Qual é o meu mistério
Quando lhes conto,
Ainda assim não enxergam

É o arco das costas,
O sol no sorriso,
O balanço dos seios
E a graça no estilo
Eu sou mulher
De um jeito fenomenal
Mulher fenomenal
Assim sou eu

Agora você percebe
Porque não me curvo
Não grito, não me exalto
Nem sou de falar alto
Quando você me vir passar,
Orgulhe-se o seu olhar

Eu digo,
É a batida do meu salto
O balanço do meu cabelo
A palma da minha mão,
A necessidade do meu desvelo,
Porque eu sou mulher
De um jeito fenomenal
Mulher fenomenal:
Assim sou eu

terça-feira, 20 de março de 2012

Um adeus com amor

Ouvi esta canção pela primeira vez há alguns anos, como trilha sonora do filme “Terapia do Amor”, com a Meryl Streep e Uma Thurman. É uma comédia romântica gostosa, levinha. Nada demais, um filminho leve para ver à tarde. Meryl Streep interpreta a psicanalista Lisa Metzger, enquanto à Uma Thurman cabe o papel de Rafi Gardet, produtora fotográfica que acaba de se divorciar e é paciente de Lisa.

Rafi se apaixona por um garoto bem mais novo que ela. No filme, ela tem 37 anos e seu par romântico tem tenros 23 aninhos. Acontece que ele é filho da sua psicanalista, que ouve com euforia cada detalhe da relação, até saber que se trata de seu filho.

Enfim, no final do filme toca este jazz delicioso na voz de Rachael Yamagata. Gosto dela porque não é aquela música de dor de cotovelo, com doses cavalares de melancolia e ressentimento na letra. Pelo contrário, fala de um romance terminado em que uma pessoa deseja tudo de melhor ao outro, reconhecendo que a relação não daria certo. É de uma maturidade que, realmente, só o jazz consegue passar. Fiz uma versão dela, adaptando alguns versos para que rime e caiba no ritmo. Por isso falo em versão e não tradução.

Pronto, agora estou com esta música na cabeça. Êta, coisa boa!

I wish you love
Nat King Cole

Goodbye, there´s no use in leading with our chins,
This is where our story ends
Never lovers, ever friends
Goodbye, let our hearts call it a day
But before you walk away
I sincerely want to say

I wish you bluebirds in the spring
To give your heart a song to sing
And then a kiss
But more than this
I wish you love


And in July, some lemonade
To cool you in some leafy glade
I wish you health
And more than wealth
I wish you love


My breaking heart and i agree
That you and i could never be
So with my best
My very best
I set you free


I wish you shelter from the storm
A cozy fire to keep you warm
And most of all
When snowflakes fall
I wish you love




Que haja amor
Versão em português: Rita Cammarota
Adeus, discutir não faz sentido,
Nossa história terminou,
Não amantes, só amigos
Adeus, deixe o coração calar
E antes de você partir
Só queria lhe falar

Que haja pássaros a cantar,
na primavera, no seu olhar
Beijo, calor,
e mais que isso: que haja amor

E no verão, água gelada,
para refrescar sua jornada
Mais que saúde, mais que valor:
Que haja amor

É tão difícil de dizer,
já não há mais eu e você
Com meu melhor,
digo sincera “até mais ver”

Que haja abrigo no temporal,
Cama quentinha no vendaval
E no inverno, abraços ternos
E muito amor
Licença Creative Commons
Este obra de Rita Cammarota, foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.