segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"A Rita", uma canção de João Lopes

Espelho
(João Nogueira)

Nascido no subúrbio nos melhores dias,
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz
Eh, vida boa!
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai (Bis)
Num dia de tristeza me faltou o velho,
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás
Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai (Bis)
E assim crescendo eu fui me criando sozinho;
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já
Eh, vida voa,
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar (Bis)

Tardei em começar a escrever esse texto. Não sabia como começar. Eis que passou o Dia dos Pais e a homenagem chegou atrasada. Demorei a escolher a música, porque nenhuma se encaixa à perfeição. Há um tempo, um amigo me apresentou a essa música e a achei muito bonita.

Escolhi também porque a primeira estrofe lembra uma cena freqüente em minha infância, adolescência e vida adulta: meu pai tocando seu violão. Hoje em dia, ele, aposentado, deu início às aulas de baixo. E já está até tocando com um grupo.

Meu pai sempre foi muito ligado à música. E o meu gosto musical hoje em dia (e mesmo desde criança) sempre foi o dele. Quando criança, eu ouvia bossa nova, adolescente começava a me apaixonar pelo rock, ritmo que até hoje é o meu preferido. Jovem adulta e apaixonada por Chico, MPB, jazz. Tudo herdado do meu pai. Além do amor à música, meu pai me ensinou tanto. Honestidade, caráter. Traçar meu caminho.

Como disse no post do Dia das Mães, meus pais foram meus primeiros espelhos. Minha mãe e seu pragmatismo e lógica; meu pai, e a arte. Duas metades que me fazem um inteiro, como li em um blog. Está certo que minha mãe adora arte também, mas acho que minha ligação com a poesia, o escrever, a música veio toda do meu pai.

E acho que uma vida sem música não é uma vida inteira. É uma vida cinza, sem cor. E as cores vivas que eu vejo e experimento, as sinfonias cotidianas de vozes humanas e da minha própria voz e consciência são a parte mais gostosa que trago em mim. E quando me olho no espelho, impossível não ver (e ouvir) meu pai.

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