quarta-feira, 21 de março de 2012

Eu e o mar

Fiz esta poesia em novembro de 2007. Lembro que me inspirei nela vendo o mar de São Conrado na subida da Avenida Niemeyer, quando as ondas que batiam na pedra e voltavam  se encontravam com as que vinham do oceano. Era lindo ver quando as ondas se chocavam e subiam em meio a outras, mais baixas. Parecia uma dança. Ao mesmo tempo eu imaginava o quão gelada devia estar aquela água.
Ver o mar me traz uma sensação engraçada. Um misto de melancolia e fascínio. Aquele movimento repetitivo e o barulho confortante das ondas. Ao mesmo tempo a periculosidade do mar, a correnteza, a profundidade. O horizonte e o “beijo azul” de que falava Toquinho em “Aquarela”, do encontro do mar com a cor do céu. Parece que eu faço parte deste infinito.

Quando cheguei ao trabalho aquele dia, foi só ligar o computador e escrever esta poesia. Sinto-me puxada para o mar sempre que o contemplo. Sinto vontade de somente calar e pensar na vida. No rumo e no sentido que dou à existência, como se eu fosse ser sugada e desaparecer. Por isso a poesia, pela adoração e temor do oceano. Colocarei após o meu poema outro de Cecília Meireles, que fala de sonhos perdidos e acabados e sua relação com o mar. Não à toa, nasci no mesmo dia que ela. Ambas escorpianas e misteriosas, melancólicas, profundas. Como o mar.



Mar alto
Rita Cammarota

As ondas envolvem num balé
Desordenado e estrondoso
Arrastam meus sonhos e corpo
E enterram na alta maré

O sorriso branco de espuma
Devora meus pensamentos
Afoga amores e tormentos
Deixa-me despida na bruma

Então, o mar, fera indomada,
Rasga-me fora de suas veias
Percebe que sou nada
E me lança nua na areia

Canção
Cecília Meireles
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

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Este obra de Rita Cammarota, foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.